“Peregrinação” a bordo da Caravela Vera Cruz
Crédito: fb.com/peregrinacaobotelho
A Caravela Vera Cruz, da APORVELA – Associação Portuguesa de Treino de Vela, é um dos cenários do novo filme do Mestre João Botelho – a “Peregrinação”. Esta obra é uma adaptação do livro de Fernão Mendes Pinto que relata a presença dos portugueses no Oriente, uma crónica de viagens de duas décadas de vivência do autor.
A obra, escrita no século XVI, ganha agora uma nova vida pela mão do realizador João Botelho. Nascido a 11 de Maio de 1949 em Lamego, estudou Cinema no Conservatório Nacional e Engenharia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Foi crítico de cinema, na revista “Gazeta da Semana” e na “Revista M”, de que foi fundador. Começou sua carreira de realizador em 1976 com 2 curtas “ Um projeto de Educação Popular ” e “ O Alto do Cobre ”. Entre as suas Obras mais recentes encontram-se “ Os Maias – Cenas da Vida Romântica (2015)” e “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016)”.
“Estar a filmar numa Caravela a sério é a única hipótese de trazer um bocadinho de verdade num cinema que é falso. No outro dia andei nesta Caravela em alto mar e percebi que é de uma violência incrível. Como é que se pode andar um ano inteiro no mar num espaço tão reduzido? É algo notável ter um instrumento destes aqui, ter em Portugal uma embarcação que é uma réplica quase real. Esta Caravela já foi caravela, barco chinês, barco malaio e sobretudo, Caravela Portuguesa. É uma sorte ter este cenário porque é um filme muito duro que aborda a peregrinação quase como uma raiva contra as injustiças do mundo. Como dizia o Armstrong, um pequeno passo para o Homem, um grande passo para a Humanidade e isto compara-se muito aos argonautas portugueses. No século XV/XVI não era fácil andar nestas cascas de noz pelo mundo inteiro e encontrar outros sítios, outros povos.
Desde que comecei a ficar mais velho comecei a adaptar textos que eu acho importantes para a nossa auto estima. Comecei com Frei Luís de Sousa, Almeida Garret, Fernando Pessoa. Uma coisa que as pessoas mais velhas têm é o querer lutar contra o esquecimento e acho que não podem ser só os Iphones a mandar no mundo, não pode ser o polegar a comandar o mundo. Tem de ser a memória, livros, história e sobretudo quando se leem livros ficamos mais humanas. Se as pessoas forem mais cultas, são mais humanas e respeitam os outros. O importante hoje é lutar contra o chauvinismo, temos de ser a harmonia à face da Terra.”
Alexandre Oliveira é o produtor que acompanha João Botelho nesta aventura: “É uma sorte existirem estes projetos de reconstituição histórica, porque noutros países teriam construído tudo em estúdio e nunca poderiam beneficiar da questão de te, um barco em mar alto, um compromisso entre situação de estúdio no Alfeite e como no primeiro dia no mar, em que tivemos uma simulação de tempestade e foi fantástico. Está a correr muito bem, sobretudo porque a alma da Caravela também é muito controlada pela equipa e isso faz a grandeza disto tudo. É muito mais que um barco de madeira, é também toda a tripulação que se envolve.
Eu considero que este trabalho que é feito por nós e pela equipa da Aporvela é muito importante, é fixação da memória coletiva. Achamos que as futuras gerações têm de ter conhecimento da nossa história e do que pode ser um instrumento de estudo, o importante não são só os livros e coisas pouco palpáveis. Espero que este filme seja um bom instrumento, que os professores utilizem para dar as matérias a nível de português ou de história.
O filme deverá estar nas salas de cinema a 2 de novembro e espero que esteja toda a gente com muita vontade de o ver.”
A Caravela Vera Cruz é uma réplica das antigas caravelas portuguesas, construída pela Aporvela em 2000 no estaleiro naval de Vila do Conde no âmbito da comemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.
A Associação Portuguesa de Treino de Vela mais conhecida como “Aporvela”, foi fundada em 1980, por um conjunto de velejadores oceânicos, dos quais se destaca o seu primeiro presidente e grande impulsionador, Eng. Luís Guimarães Lobato. Reunindo uma equipa inicial de grande reputação, a Aporvela foi responsável pela requalificação do lugre Creoula, a construção da Caravela Bartolomeu Dias e responsável por trazer para Portugal, desde 1956, a organização da regata The Tall Ships Races Lisboa.
Tem como objetivo fomentar a ligação dos jovens ao Mar e promover a preservação do património náutico nacional.
A caravela Vera Cruz é um espaço de história que conta ao longo do ano com muitas visitas de estudo dos mais jovens e que tem sido palco de muitos eventos a nível nacional e internacional. Os Programas de investigação a bordo da Caravela são uma constante.
Filipe Costa – Crew Leader Caravela
“A gravação deste filme tem tido uma magia um bocadinho diferente, porque aqui nós entramos dentro das histórias que contamos às crianças e isso é bastante forte. Passamos a visualizar todo o nosso imaginário e o que lhes contamos. Acho que é ótimo a Caravela entrar nestas histórias, fazer parte desta magia histórica portuguesa. Têm sido uns dias diferentes mas com uma força imensa para nós, da Aporvela, e também para a própria produção do filme que integrou a magia da Caravela.
Confesso que já tirámos várias ideias para as nossas visitas escolares, como passarmos a estar um bocadinho mais rigorosos na história, contar a história já trajados à época, porque se para nós tem um significado fantástico, para as crianças será ainda mais forte, pois poderão viver tal como nós estamos a viver hoje neste filme a magia dos Descobrimentos no seu esplendor.
Com pena minha ainda não fui ao Japão, mas vamos ver se agora em 2019, com o Fernão de Magalhães, vamos e traremos novas histórias, novas ideias para visitas e muito mais magia para contar.
Tivemos cerca de 7 dias de filmagens, em que um dos dias foi de mar, fomos para a frente do Cabo da Roca e viemos para a Base do Alfeite, onde passámos a fazer parte de um grande cenário com todas as condições onde a Caravela já fez de 5 barcos diferentes, desde barcos chineses a barcos do Sal. Tivemos uma tonelada de sal no convés da Caravela. É uma magia sem fim. Como dizia o João Botelho, um cineasta vende sonhos e eles venderam muito bem, com a Caravela que, faz parte do sonho.
Trabalhar com o João Botelho é algo fantástico. Confesso que para mim é um orgulho estar sentado ao lado do João e perceber a magia que ele tem em tudo o que trabalha. Estas imagens que ele quer, muitas vezes repetem-nas mil vezes mas a que ele gosta mesmo é da primeira porque é a mais espontânea, aquela que ele acredita que é a mais verdadeira. É incrível, dá-nos bastante orgulho e acho que temos muito a aprender uns com os outros e com o João Botelho em particular, que é uma pessoa fantástica e um cineasta que não precisa de apresentação.”
Esta histórica embarcação – um autêntico monumento flutuante – serve de cenário único para vários tipos de acontecimentos, como é, neste caso, as gravações de um filme. As ações e atividades a bordo da Caravela Vera Cruz transformam-se em experiências grandiosas, originais e memoráveis, num cenário único e transversal a vários públicos, faixas etárias, géneros e classes sociais.